Há uma dezena de dias já escrevi um primeiro post sobre este relato autobiográfico de um general cubano escrito quando andava envolvido na guerra civil angolana e reportando-se à experiência vivida entre os 14 e os 16 anos, enquanto andava alistado na guerrilha da Sierra Maestra.
Porque o li em férias, quase sempre esticado nas areias da praia, não tive disponibilidade para, entretanto, vir aqui enunciar mais algumas conclusões dele retiradas. Razão para esta reabordagem para a qual opto por salientar três aspetos de realce.
O primeiro tem a ver com a desmistificação da guerrilha cubana como constituindo um exército popular particularmente eficaz devido à superioridade estratégica evidenciada por Fidel Castro e pelo Che.
A realidade foi bem diferente: a guerrilha era constituída por um bando de maltrapilhos, que passavam grande parte do tempo esfomeados e toscamente armados e, sobretudo, preocupados em escapar aos contínuos ataques da aviação de Fulgêncio Batista.
O segundo diz respeito à ideologia que professavam. Enrique é explicito quanto ao facto de existir um número muito reduzido de comunistas nas forças revolucionárias. A maior parte dos que combatiam faziam-no para se libertarem da opressão do regime ditatorial, sem se preocuparem grandemente com os fundamentos teóricos, que lhes poderiam justificar os atos.
Há muito que concluí ter sido o cerco logo de início convocado pelos EUA contra quem lhe estava a estragar a “pacífica” exploração do seu quintal das traseiras o motivo maior do alinhamento progressivo de Fidel de Castro com a União Soviética. Por mero reflexo de defesa.
O próprio Che não tinha qualquer conotação com os princípios e os valores do «socialismo real», adotando comportamentos anarquizantes, que acabaram por se lhe revelar fatais na Bolívia.
Mas esta situação não era nova em 1959: o próprio regime bolchevique evoluira para uma lógica totalitária à medida que se vira acossado pelos exércitos contrarrevolucionários, armados pelas potências europeias de então para procurarem reverter a queda do reinado czarista. E, mais recentemente, o próprio Hugo Chavez, na Venezuela, foi evoluindo para uma deriva semelhante como resposta à sabotagem intensa a que o seu governo foi sujeito desde a tomada de posse.
É por isso de reconhecer que as derivas totalitárias de diversos regimes assumidamente mais à esquerda começam por se fundamentar na conclusão de as Revoluções não constituírem propriamente convites para jantar.
Há ainda uma terceira vertente de reflexão suscitada pela autobiografia de Enrique Acevedo: a frequência com que se verificavam deserções, se não mesmo traições, no campo revolucionário. Por isso mesmo é sem grandes estados de alma, que Acevedo relata frequentes fuzilamentos dos que pretendiam abandonar a guerrilha.
Se no texto anterior qualificara esta gesta de epopeica, é forçoso reconhecer que o texto de Acevedo remete para muitas das suas zonas de sombra...
Sem comentários:
Enviar um comentário