Pouco auspicioso este início de ano no capítulo das coisas vistas: se não se revelaram propriamente más, também não entusiasmaram, mesmo que, num dos casos, tenha surpreendido pelo inesperado.
2351, o documentário de Pedro Canavilhas, rodado em 2019 por Pedro Canavilhas, teria motivo para deslumbrar-nos com as paisagens da ilha do Pico e compensar-nos - aos que nunca ascenderam ao topo da sua montanha -, para dar-nos um vislumbre da emoção, que será olhar em redor e compreender por que querem-na subir os émulos de Mallory, que aspiravam galgar o Evereste só por ele lá estar. Mas, hélas, o filme mais parece um panegírico em torno de um guia, que todos dizem muito competente e solidário. Às tantas, mais do que um documentário sobre uma paisagem de exceção, deparamo-nos com a indisfarçada publicidade a uma empresa turística na forma de “contratem-no que ele é mesmo bom!”.
Burning at Both Ends, filme do ano passado da autoria de Matthew Hill e Landon Johnson, é uma história passada na França ocupada, aparentemente destinada a demonstrar que, apesar de não militarem na Resistência, os protestantes também contribuíram para a derrota nazi com um discurso proselitista capaz de irritar o mais tolerante dos ateus. No meio de um maniqueísmo de bradar aos céus apenas surpreende que o clã Hirsch tenha entrado com dinheiro para produzir o filme, quando o argumento dá os judeus de serviço como estúpidos no seu descontrole emocional, que contribui para o desenlace dramático.
A surpresa, enfim, veio de La región salvaje, filme mexicano de Amat Escalante, que sobressaltou alguns festivais de cinema em 2017, com a sexualidade explicita de personagens fascinados pelos prazeres suscitados por uma espécie de alien, tombado do espaço e capaz de prodigalizar orgasmos intensos, nalguns casos, fatais, a quem se lhe entrega para ver-se invadido por todos os orifícios do corpo. Pelo meio há a homofobia, a submissão feminina à misoginia dominante e uma sugestão surrealizante, que alguns quiseram ver influenciada por Buñuel. Eu, que gosto de alguns filmes de quem tanto enfatizou o obscuro objeto do desejo diria tratar-se de um exagero...
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