Sessenta e cinco anos passaram desde a estreia de O Salão de Música e continua a fascinar essa total dedicação de um antigo aristocrata à música e à dança tradicionais, alheando-se totalmente das mudanças operadas no mundo à sua volta. Muito embora a mulher procure trazê-lo para a realidade, Biswambhar Roy decide alimentar a aparência de ainda ser um grande senhor, contratando músicos e uma dançarina para uma derradeira demonstração do tipo de cultura, que tinha cabimento na Índia pré-colonial, e até pré-imperial (a dos marajás!), mas definitivamente condenada como obsoleta após a independência.
Ele bem pode olhar sobranceiramente para o vizinho, o perverso Ganguli, que já é ele quem personifica a classe dominante desses novos tempos. Pode ser inculto e não ter maneiras, mas possui a fortuna bastante para organizar festas barulhentas, que replicarão pelo kitsch o que constituía o glamour do distante passado.
Adaptando um romance de sucesso da autoria de Tarasankar Bandyopadhyay, Satyajit Ray assinou um dos seus filmes mais bem sucedidos internacionalmente, capaz de confirmá-lo como um grande autor do cinema indiano, nada partilhando com os cânones de Bollywood.
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