Um dos Caravaggios, que mais me perturba é um dos seus últimos: a representação de David a segurar a cabeça Golias, pintada em 1610 em Nápoles, na intenção de o dar como presente ao cardeal Borghese, aquele que no Vaticano o poderia eximir do castigo pelo assassinato de um jovem durante uma briga quatro anos antes.
Perseguido como criminoso nunca se conformou com o ver-se apartado de Roma por muito que a rica família Colonna lhe tivesse dado condições invejáveis durante o exílio em Nápoles.
Na tela ele é o modelo para a cabeça do decepado, enquanto David ficou com os traços do seu assistente e amante. Porventura estaria aqui a chave para vermos explicada a sua misteriosa morte? Difícil sabê-lo: a exemplo das suas pinturas, a vida de Michelangelo Merisi, foi permanentemente caracterizada pelo confronto da luz com as suas sombras...
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