Nunca fui um entusiasta dos filmes de, e com, Julie Delpy. Passei por uns quantos e nenhum me deixou recordação digna de evocar enquanto experiência memorável. Razão para ter limitado as expetativas quando iniciei a descoberta de Zoe, o filme que rodou em 2018 e estreou de forma quase clandestina no ano seguinte, furtando-o ao circuito prestigiado dos festivais de cinema. Talvez por pudor perante um tema muito pessoal já que Delpy verteu para o ecrã a má experiência de custódia partilhada do filho Leo, quando se divorciou do compositor Marc Streitenfeld em 2012?
Na primeira das três partes em que o filme se divide é esse o tema: o relacionamento tumultuoso entre Isabelle e James apesar de se obrigarem a conviver por partilharem a custódia da filha Zoe de sete anos.
Será essa a parte mais interessante do filme, que perde interesse, quando a miúda morre depois de uma hemorragia cerebral causada por uma queda num parque infantil. A partir daí, e a pretexto de almejar a recriação da filha por clonagem, Isabelle percorrerá uma via sacra, indo além das fronteiras da legalidade, para ver-se devolvida de quem não terá amado tanto quanto pretendera, demasiado ocupada profissionalmente e com o novo amante.
Escusando-se à abordagem ética a respeito da clonagem de pessoas - aqui só tangencialmente referenciada! - o filme tem a ver com o relacionamento entre pais e filhos, quando a relação conjugal se estilhaça e as crianças ficam na terra-de-ninguém entre a casa de um e a de outro. Com o egoísmo maternal a sobrepor-se ao do parceiro, que sempre utilizara a filha como pretexto para culpabilizar e menorizar quem decidira mandá-lo passear.
Acabando em registo de ficção científica, Zoe nada acrescenta à pretérita opinião sobre o talento da sua realizadora.
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