Pauvres malgré le job, o documentário alemão de Katharina Wolff e Valentin Thurn estreado o ano passado, mostra como as classes médias estão a definhar num processo de empobrecimento, que tem contraponto no crescente enriquecimento dos que se julgam merecedores de pertença a uma elite privilegiada. E como, infelizmente - a exemplo aliás do sucedido na Alemanha dos inícios dos anos 30 - são as extremas-direitas a beneficiarem com as frustrações dos que nelas investem a sua raiva em vez de, lucidamente, o fazerem nas opções políticas igualitárias e anticapitalistas. Que o Chega, o Vox e outros partidos fascistas europeus tenham o financiamento garantido por algumas das maiores fortunas internacionais não é por acaso. Porque é esta dinâmica, que beneficia os que anseiam replicar os duvidosos dotes e a mesma falta de escrúpulos de Elon Musk.
O documentário abunda em testemunhos de homens e mulheres, que viveram a ilusão dos que se julgavam remediados e se veem perante a crueza de não terem rendimentos suficientes para sobreviverem ao inflacionado custo de vida dos nossos dias. E conclui-se com jovens a viverem na precariedade de empregos uberizados, que lhes impõem todos os riscos e quase nenhuns direitos.
Estima-se que, na Europa atual, mais de um terço dos que estão qualificados como população ativa não têm um vínculo contratual a tempo inteiro. E, em muitos casos, acumulam dois e mais “empregos” para conseguirem o bastante para se alojarem, alimentarem, aquecerem nestes dias frios de inverno.
Em contrapartida um terço dos europeus viram aumentados os rendimentos apesar da crise, crescendo o fosso da desigualdade relativamente aos que se veem no segmento mais desfavorecido. Ademais, torna-se evidente que essa iniquidade é agravada nas mulheres relativamente aos homens.
Não admira que, perante as câmaras dos realizadores do documentário, comunguem as mesmas angústias e perplexidades perante o beco sem saída em que se sentem acossados.
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