terça-feira, janeiro 10, 2023

O que bom foi e tão complicado se tornou

 

1. As coincidências inexplicáveis levam-me a, quase ao mesmo tempo, olhar para as celebrações a Joan Baez nas redes sociais a pretexto do seu aniversário, e para a abordagem na Arte ao período proselitista de Bob Dylan num documentário, que lembra a sua trilogia cristã: Slow Train Coming (1979), Saved (1980) e Shot of Love (1981).

Pese embora os seus ainda muitos entusiastas deixei de os considerar relevantes nos idos de 70, quando uma se colou às campanhas da CIA a reboque da tragédia dos boat people da Indochina e o outro se dissociou de mui respeitáveis companhias (mormente de Pete Seeger) para renegar a mudança para tempos, que pareceria ter anunciado. As celebrações e concertos mais recentes mais não são do que folclóricos ecos de um passado em que foram, de facto, importantes, mas depressa se apearam de uma composição, que prosseguiu nos carris em direções para que deixaram de ter qualquer influência.

2. Em trinta anos desapareceram quatrocentos milhões de pássaros dos céus europeus. Vinte por cento dos que se contavam nos finais do século passado.

A causa: o desaparecimento dos insetos que os alimentavam, dizimados pelos pesticidas aplicados nas monoculturas dos campos continentais. Razão que leva os especialistas a defenderem a necessidade de metade dos campos vocacionarem-se para a agricultura biológica. O que parece objetivo ainda muito distante, quando a indústria agroalimentar continua a apostar em produções crescentes e aos custos mais baratos possíveis.

3. Não é que sejam significativas as novidades colhidas de Au dehors, o documentário que Johanna Sunder-Plassmann e Tama Tobias-Macht rodaram com a colaboração de quatro sem abrigo na cidade alemã de Colónia. Quem são, como ali chegaram, quais as suas expetativas - tudo temas previsíveis nos oitenta minutos em que o maior efeito é o de conferirem rostos a uma realidade, que nos interpela nas nossas próprias cidades. 

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