domingo, janeiro 22, 2023

Uma pastoral grega

 

Não sei se vi Pastorale, o quadro que John Craxton pintou em 1948 numa das vezes em que atravessámos a ponte do lado da Catedral de São Paulo e entrámos no Tate Modern, o nosso museu preferido na capital londrina. O certo é o quadro integrar a coleção do museu e, amiúde, constar das suas exposições permanentes. Mas só agora, num documentário a ele alusivo, pude constatar a sua importância, corrigindo o anonimato em que até agora ele se me revelara.

O tema é o da paisagem grega, que o pintor visitou logo após a Segunda Guerra Mundial e quando essa região dos Balcãs ainda conhecia a guerra civil, que garantiria a vitória monárquico-fascista, apoiada pelo governo inglês, contra os comunistas apostados em replicar no seu país a solução política conseguida por Tito na Jugoslávia.

Instalando-se em Poros, ilha poupada a essa disputa, Craxton ficou fascinado pelas danças masculinas, que Anthony Quinn e Alan Bates viriam a consagrar no Zorba em versão simplificada: o hasapiko  e o hasaposervikos. Mas foi sobretudo a luminosidade dos céus, que o impressionou dissociando-o dos tons sombrios até então característicos da sua pintura -  e, por exemplo, característicos de Lucien Freud com quem partilhou o atelier durante algum tempo.

Às referências musicais e humanas, Craxton associou igualmente a inspiração cubista, que dele se apossara ao passar previamente por Paris para ver as obras de Pablo Picasso, não faltando ainda ambíguas homenagens a amigos e mecenas cujas feições surgem nalgumas das cabras aí representadas.

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