1. Não vi o Vieirarpad, que o João Mário Grilo apresentou nesta edição do Indie, mas ele fez-me regressar a outro filme de referência sobre Vieira da Silva e Arpad Szenes, rodado por José Álvaro de Morais em 1976. Disponível no You Tube ele é não só revelador do talento de um dos melhores, e menos conhecidos, realizadores da sua geração, como ilustrativo da grande cumplicidade amorosa e criativa entre os dois artistas. Regressar a ele é sempre um prazer. E João Mário Grilo corrobora-o ao utilizar-lhe muitas das cenas para o seu filme, que também dá grande relevância ao exílio brasileiro do casal entre 1940 e 1947 e às cartas por ambos trocadas, quando as obrigações profissionais de um ou de outro os distanciavam geograficamente.
2. Esta foi a semana em que morreu um dos grandes atores europeus mais populares: Jean Paul Belmondo. Da sua filmografia prefiro-lhe, obviamente, os títulos que rodou com Godard, Truffaut ou Chabrol, e o firmaram como um dos mais mediáticos rostos da nouvelle vague. Mesmo que ele depreciasse esse tipo de filmes, que considerava profundamente aborrecidos.
Dos outros pouco tenho a dizer, mesmo reconhecendo-lhe a coragem de fazer jus à fama de boxeur amador, não se deixando substituir por duplos nas cenas mais arriscadas desses filmes de ação. Recordo os que rodou com Broca, que chegavam a ser divertidos na sabotagem irónica dos códigos dos filmes de espionagem, mas quedavam-se nessa limitada subversão. Que parecia contentar o pouco exigente ator que fora Michel, o icónico personagem de O Acossado.
3. Dos filmes agora apresentados no Festival de Veneza confesso a minha expetativa por Il Buco de Michelangelo Frammartino. Porque dizem-no diferente do que estamos acostumados e essa condição basta para me pôr a salivar por antecipação. Mesmo sabendo que a banda sonora é parca em diálogos e ainda menos em música. Mas há um pastor a olhar para as nuvens no céu e para o grupo de espeleólogos apostados em explorar uma gruta no maciço de Pollino no norte de Itália que, descendo aos setecentos metros de profundidade, é a terceira maior do mundo.
Documentário ficcionado o Vasco Câmara do «Público» viu-o e falou do realizador como criador de um cinema subterrâneo capaz de estabelecer uma outra forma de comunicação com o invisível, com o fora de campo.
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