Através dessa obra intitulada «O Barco», com 32 metros de comprimento e constituída por cento e quarenta blocos a sugerirem uma nau, ela revisita o tema da escravatura chamando à colação a importância decisiva de Portugal nesse tráfico negreiro até quase ao final do século XIX. Daí que ela questione: “Como é que tantos corpos e identidades não têm lugar na História? O que acontece quando não existe um cerimonial onde determinada história é reconhecida? Porque apagamos algumas narrativas e reconhecemos outras? Quem pode falar? Quem pode produzir conhecimento? Que conhecimento é reconhecido como tal? Porque é que a negação está sempre em ligação com a glorificação do passado?”
Na entrevista dada a esse suplemento do «Público» Grada Kilomba denuncia como Lisboa está pejada de monumentos a glorificarem o passado colonial, esquecendo que as naus dos «descobrimentos» de terras onde viviam milhões de pessoas, ocultavam nos fundos os 12 milhões de escravos nelas carregados. Daí a importância de reinventar a linguagem para evocar esse passado sinistro, questionando-o de modo a evitar-lhe a repetição. Porque importa agora integrar comunidades e culturas em vez de as manter no estado de exclusão em que vêm sendo consideradas.
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