quinta-feira, setembro 16, 2021

The Operative, Agente Infiltrada, Yuval Adler (2019)

 

Um filme de espionagem assinado por um realizador israelita? Convenhamos que as expetativas não eram famosas ao iniciar a apreciação de The Operative - Agente Infiltrada. À partida tratar-se-ia do sucedido com uma espia da Mossad em Teerão, apostada em sabotar o programa nuclear iraniano e, muito provavelmente, em contribuir, com mais uma personagem, para  a glorificação daqueles serviços secretos.

Nas primeiras cenas nada que contradissesse a previsão: Rachel (Diane Kruger) enviara uma mensagem ao seu responsável, recentemente reformado, para que a extraíssem urgentemente da capital inimiga pelo risco de vir a ser desmascarada. Será por esse Thomas (Martin Freeman), que passaremos a conhecer detalhadamente a forma como a conhecera e contratara, mesmo não havendo vínculos de sangue, que nela justificassem a adesão a uma causa tão ideologicamente vincada. E as coisas tornam-se mais complexas, quando o ex-agente é confrontado pelos antigos patrões quanto ao facto dela ter estado em Londres quatro dias antes para assistir ao funeral do pai e depois desaparecera sem o recurso aos aeroportos onde poderia ser mais facilmente localizada. Algo parece não bater certo e, de facto, começam a emergir as suas contradições: o incómodo com os métodos pouco escrupulosos da sua organização, que não mostra grandes escrúpulos em matar vítimas inocentes apenas por terem estado no sítio e hora errada no momento de consumação de alguma missão assassina. Ou em recorrer à chantagem para melhor vincular iranianos à sua causa. Às tantas compreenderemos que os motivos por que Rachel entrara na Mossad tinham a ver com o distanciamento afetivo perante um progenitor, historiador conceituado e simpatizante da causa palestiniana, mas sem conseguir nos novos amigos a plena inserção a que aspirava. Por um lado por não ter sangue judeu, por outra por nada perceber de hebraico.

Yuval Adler leva a abordagem a inimaginável, mas estimulante, abertura de espírito: Teerão até parece uma cidade agradável e os seus habitantes são quase todos simpáticos, sem grandes simpatias pelos façanhudos aiatolas. Daí que, mais do que um filme de espionagem, The Operative acaba por ser uma história sobre o desejo de alguém em ser reconhecida, mesmo sacrificando muitos dos seus valores, e acaba dececionada, por não conseguir melhor integração onde sempre continuará a ser considerada como um esdrúxulo ser. Algo que fá-la convergir com o próprio Thomas, também ele olhado com desconfiança pelos superiores hierárquicos, que troçam do seu domínio da língua e da nacionalidade britânica.

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