1. Amanhã, 18 de setembro, passam cem anos sobre o nascimento de Maria Judite de Carvalho, cuja obra, apesar de recentemente editada, continua a não ter o destaque que a sua qualidade mereceria. Numa altura em que Elena Ferrante consegue tantas leitoras com as suas personagens anódinas, mergulhadas nas contradições inerentes às vicissitudes com que se veem confrontadas, estranha-se que algumas não sintam igual devoção por uma autora capaz de criar identidades semelhantes, dotá-las de rica via interior e confrontá-las com os constrangimentos de um tipo de sociedade que, mesmo referente à cinzentude salazarenta, ainda dela mantém muitas características.
Na mais recente edição do JL Maria Graciete Besse descreve as personagens dos seis romances, novelas, contos e crónicas como “marcadas por períodos de solidão, desencantoe renuncia, capazes de transmitir a tonalidade asfixiante do espaço salazarista. (...) As heroínas silenciosas e desiludidas são quase sempre mulheres banais, sem história, cujo corpo se exprime sobretudo através das lágrimas e de um monólogo interior que se constrói em torno do abandono, da doença e da obsessão da morte.”
2. Exposição aliciante, a que acaba de inaugurar-se no museu de arte contemporânea do Centro Cultural de Belém, intitulada “Matéria Luminal” e contemplando sessenta obras de quarenta autores, criadas entre os anos 60 e os nossos dias. Estão lá obras de Júlia Ventura, Helena Almeida, Jorge Molder, Julião Sarmento, René Bertholo, Lourdes Castro, Jorge Martins, Fernando Calhau, Pedro Cabrita Reis, Rui Chafes, Ângelo de Sousa e muitos mais de quantos dotaram a arte portuguesa da segunda metade do século XX de uma criatividade, que se exprimiu na pintura, na escultura, no desenho, no vídeo ou nas instalações multimédia. Antecipam-se momentos estimulantes a percorrê-la, a determo-nos mais ou menos demoradamente perante cada uma dessas propostas.
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