quarta-feira, setembro 22, 2021

Jane Campion, The Power of the Dog (2021)

 

Desde que me desliguei do serviço da Netflix, não deve haver uma semana em que a operadora de streaming não me venha convidar a retomar o vínculo contratual com ela.  Acena-me com os seus lançamentos recentes e os que se anunciam para breve, esperançada em me pôr a salivar o bastante para reverter a decisão tomada alguns meses atrás. Em vão, porque manifestamente, depois de ter sido cliente durante uns tempos, cansei-me da lógica da empresa, que tende a normalizar, a estereotipar o gosto cinematográfico num cânone com que me não identifico.

A estreia do filme de Jane Campion prevista para daqui a dois meses, mas entretanto apresentada em Veneza, corrobora a estratégia de marketing da empresa em causa: perspetivando a sobrevalorização dada pela comunidade cinéfila à realizadora neozelandesa foi busca-la à reforma a que se remetera desde 2009 e deu-lhe os meios necessários para criar um produto bem sucedido para os consumidores definidos como seu público-alvo.  Entre esses recursos incluiu dois atores meritórios - Benedict Cumberbatch e Kirsten Dunst - mesmo que pareçam peixes fora de água no ambiente do Oeste dos anos 20 do século passado e uma história de perseguição de um vaqueiro para com a sua cunhada, que acaba por ecoar a intriga do multipremiado “O Piano” com Holly Hunter, Sam Neill e Harvey Keitel.

Que Campion tenha feito um filme sensação na altura em que a Europa a conheceu (“Um Anjo à minha mesa”, 1990) e depois merecesse fama mundial com o acima citado (apesar de podermo-nos interrogar até que ponto o sucesso não dependeu sobretudo da banda sonora de Michael Nyman), não bastou para que convencesse muitos outros cinéfilos. A série televisiva “Top of the Lake”, rodada entre 2013 e 2017, corroborou essa mediania merecendo rápido esquecimento.

Agora a Netfliz quis lançar o novo filme da realizadora com grande foguetório. Quem o viu em Veneza considerou que não era caso para tanto. Não será à custa dessa proposta, que voltarei a ser cliente de quem depressa me cansou... 

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