1. Deus não é manifestamente de confiança. Disse-o José Saramago em múltiplas ocasiões para escândalo dos crentes, e repete-o Ana Bárbara Pedrosa no romance «Palavra do Senhor», que andamos a ler.
Enquanto narrador a bíblica personagem é dada a rancores queixando-se de Caim por, tendo-se sentido preterido pelos seus favores, ter matado o irmão e assumido postura sacrílega e ímpia. E antes não tivera pejo em sacrificar todas as criaturas da época dos dinossauros só pelo capricho de ver o resultado de fazer incidir um meteorito na Terra. Ou de repetir a façanha com um Dilúvio capaz de matar todos quantos não correspondiam ao modelo de virtudes ilusoriamente identificável em Noé.
Manifestamente só podemos dele desconfiar, senão mesmo descrer com veemência.
2. Noutro romance em fase de descoberta - O Diário de Edith» de Patricia Highsmith - há a recuperação do grande prazer propiciado por cada romance da autora. Também existe aqui uma personagem incomodada com a vida que tem e capaz de a efabular num texto alternativo, insuficiente para a impedir de se sentir num crescendo de revolta interior. A meio da história ainda não é possível imaginar qual o seu desenlace, mas fica a suspeita de que não durará muito a passividade da dona-de-casa a quem o marido trocou por esposa mais jovem e cujo filho em nada corresponde ao padrão imaginado, quando o fez crescer dentro de si. Por agora há a capacidade para não ir espreitar páginas adiante o que se irá passar, mas por quanto tempo durará esse freio?
Sem comentários:
Enviar um comentário