Há duas dúzias de anos fiquei agradado com um filme realizado pelo canadiano Atom Egoyan - The Sweet Hereafter - em que um advogado, interpretado por Ian Holm, ia tentar que as famílias das vítimas de um acidente com um autocarro escolar processassem judicialmente a municipalidade acusando-a de negligência homicida. Na altura realçava-se o facto de as famílias esconderem segredos capazes de conferirem outra leitura para a aparente verdade dos factos.
Tantos anos e filmes depois Atom Egoyan não parece ter saído do mesmo ponto em que, então, se encontrava: se bem que Wim Wenders há muito tenha constatado estarem contadas todas as histórias possíveis, servindo o cinema apenas como sucedâneo de variações sobre elas, nem chega a ser isso o que acontece com o canadiano, apostado em repetir sempre o mesmo filme. Neste caso temos um inspetor sanitário evocado em flash backs pela filha, que cuida do seu funeral com o padre incumbido da respetiva missa, e onde se misturam o adultério, a pedofilia, a obsessão sexual e outros temas afins. E com eles o sentimento de culpa, que nunca conhece redenção.
Se ecoa algo do que, em tempos, me interessou nos filmes de Egoyan, depressa se esvai numa realização preguiçosa, até capaz de transformar um ator competente - David Thewlis - numa espécie de zombie ao longo de uma narrativa, que vai perdendo o sentido da verosimilhança. A lógica das matrioskas, que poderia suscitar o crescendo de interesse acaba por se revelar dececionante no quanto impele a distanciar-nos de uma história inconsistente.
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