A tenebrosa história dos médicos nazis, que implementaram um programa de experiências em seres vivos nos campos de concentração, constitui um dos exemplos mais terríveis da negação do juramento de Hipócrates a que eles se deveriam sentir vinculados. Constitui a demonstração quanto a não existirem limites à crueldade, quando um poder autocrático se impõe a populações indefesas...
Desde início o nazismo cuidou de contratar médicos para os seus objetivos de purificação racial: em 1937 eles estiveram envolvidos na esterilização forçada das crianças mestiças - classificadas de “bastardas” - da Renânia. Depois, em 1938 e 1939 selecionaram e assassinaram milhares de doentes mentais. Finalmente, nos anos seguintes, esses médicos utilizaram como cobaias muitos prisioneiros dos campos de concentração de Sachsenhausen, Dachau, Buchenwald, Natzweiler-Struthof, Neuengamme e Ravensbruck. O objetivo era testarem algumas experiências em prisioneiros vivos e com objetivos militares.
Nessa política de desumanização o clímax foi atingido em Auschwitz: todo o processo de exterminação de vidas humanas foi colocado sob a supervisão de médicos. Eram eles quem escolhiam os que, à saída dos comboios, eram imediatamente direcionados para as câmaras de gás ou se manteriam vivos mais algum tempo, fosse para trabalharem como escravos, fosse para servirem de cobaias.
Para além do tipo de experiências concretizadas nos outros campos, em Auschwitz somavam-se outros dois tipos de “investigações”, destinadas a garantir a supremacia da raça ariana: por um lado a esterilização massiva de homens e mulheres europeus pertencentes às supostas raças inferiores; e, por outro, o dr. Mengele levou por diante as experiências com gémeos, a fim de descobrir os segredos da genética, com os quais pretendia criar condições para a multiplicação da raça ariana.
Em 28 de março de 1941, o médico Viktor Brack redigiu um relatório para Himmler no qual dava conta do sucesso da esterilização e da castração de indivíduos através do recurso intenso à radiação X, como se comprovava com os testes realizados com as cobaias do Bloco 10 onde as centenas de mulheres, que por ali iam passando, tinham a noção, de, tão-só cumprido o papel de cobaias que lhes estava destinado, serem de imediato enviadas para os fornos crematórios.
A maior parte das experiências de esterilização com raios X foram praticadas em raparigas gregas com idade compreendida entre os 16 e os 18 anos.
O método do dr. Schumann consistia em fazer uma aplicação direta dos raios X na parte inferior do abdómen, ou seja sobre os órgãos genitais internos, que eram depois extraídos ao fim de alguns dias.
Quando as vítimas regressavam de Birkenau, onde estavam os equipamentos necessários às operações a que as sujeitavam, vinham aterrorizadas, a vomitar e com sinais de gangrena. O seu sofrimento durava semanas, senão meses, porque os órgãos, sobretudo os intestinos, estavam queimados pelas radiações e lhes causavam dores indescritíveis.
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