Há muito tempo que manifesto, sem qualquer contenção, o entusiasmo pela leitura de policiais. Não propriamente os da autoria de Agatha Christie, que se limitam a engenhosos desafios intelectuais para identificar quem são os culpados antes deles se desmascararem, mas, sobretudo, os que tinham subjacente uma intenção de denúncia política. Por isso mesmo, durante anos, os meus autores de referência foram Dashiell Hammett, Raymond Chandler e mais alguns (Ross McDonald, por exemplo) dos seus contemporâneos, que acabaram por ter chatices com a malfadada comissão do senador McCarhy.
Nos anos 90 descobri os romances de Henning Mankell e, se não chegaram a constituir uma epifania, tornaram-se meus companheiros obrigatórios, sobretudo durante as viagens de mar então efetuadas por todos os oceanos.
Acompanhando o inspetor Wallander por diversos romances pude conhecer as suas idiossincrasias, muito bem interpretadas por Kenneth Branagh, quando as assumiu para a série fabulosa de produção inglesa.
Mas, depois de acompanhar-lhe os amores frustrados, as preocupações paternas e filiais e o envelhecimento com o Alzheimer à porta, já sabia que não poderia contar com mais do que os nove romances dedicados ao personagem. A compensação veio sob a forma da apresentação de uma nova série de romances, tendo por protagonista Linda Wallander, a filha de Kurt, e sua sucessora na esquadra da pequena cidade onde crescera.
O problema foi que a televisão sueca logo produziu uma série alusiva a essa nova personagem e a atriz dela incumbida suicidou-se após longo período de depressão subsequente ao trauma com o tsunami tailandês.
Mankell decidira, então, abandonar o projeto. Mas já se lhe anunciava o cancro, agora fatal.
Em poucos meses já é o segundo autor, que muito admiro, a ser levado pela terrível doença. Ainda mal estavam encerrados os elogios fúnebres a Oliver Sacks e já outros se preparam para o autor sueco, que sempre se dividiu entre a sua terra natal e Moçambique, onde dirigia uma companhia de teatro...
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