De entre os cineastas iranianos Asghar Farhadi é dos que mais me tem interessado pela forma como, inteligentemente, tem abordado aspetos eloquentes da sociedade governada pelos aiatolas sem lhes suscitar a reação violenta que Panahi tem sentido. É, de facto, necessária muita inteligência para manter uma atividade regular de cineasta sem se sujeitar a panegíricos de quem a superintende.
«A Festa do Fogo» é um dos seus títulos menos conhecidos, já que foi realizado em 2006, quando ainda era um desconhecido no circuito europeu dos festivais.
O filme começa precisamente com essa festa anunciada no título e consagrada à chegada do ano novo. É nesse mesmo dia que Rouhi, uma jovem noiva, vai conhecer uma família, até então desconhecida, para lhe servir de empregada doméstica.
Vai deparar com um apartamento caótico, o pavimento coberto de vidros partidos e o casal em plena crise conjugal: Modjeh, a esposa, suspeita do adultério do marido com a vizinha cabeleireira. Ora Rouhi vai a casa dessa mulher para depilar as sobrancelhas, descobrindo o quanto ela é simpática e carinhosa.
Temos, pois, o clássico triângulo amoroso, mas com a nossa condição de voyeurs filtrada pelo olhar de Rouhi, que irá constatar um tipo de relações com que não estava nada identificada...
Sem comentários:
Enviar um comentário