Porque são tantos os milhares de desesperados, que procuram chegar à Europa, oriundos da Síria, do Afeganistão e doutros países asiáticos? Por um lado criaram-lhes a ilusão de que partirão ao encontro de um verdadeiro el dorado. Mas, sobretudo, porque veem tão em risco a sua própria sobrevivência, que só lhes resta alcançar algum sítio onde a probabilidade de morrer não seja tão elevada...
Durante dois anos Claire Billet e Olivier Jobard acompanharam a tentativa de cinco jovens afegãos - Luqman, Fawad, Khyber, Jawid e Roahani - de chegarem á Europa, sobretudo a essa Paris idealizada de que ouviram dizer maravilhas. Nomeadamente, que estaria sempre a ser sobrevoada por helicópteros, que iam pulverizando os céus com perfume de forma a mantê-la bem cheirosa. Explica-se, logo, de início, a razão do título do documentário.
Os realizadores acompanharam os cinco jovens durante quatro meses quando, integrados num grupo bem maior, atravessaram o Paquistão, o Irão e a Turquia para chegarem às margens do Mediterrâneo. Nessa árdua odisseia, para a qual cada um pagou 7 mil dólares, utilizaram comboio, autocarro, pickups, anas traseiras de um camião, mas, sobretudo os próprios pés quando se tratava de passar fronteiras durante a noite.
A sensação de vulnerabilidade, relacionada com a sua clandestinidade associava-se, permanentemente ao cansaço. Mas Istambul significa o primeiro vislumbre dessa Europa moderna em que as mulheres andam de pernas e braços à mostra.
Quando os colocam num barco de borracha com mais trinta companheiros de infortúnio, para chegarem à ilha de Samos a quinze quilómetros de distância os cinco rapazes não sabem o que os espera: a polícia marítima grega tira-lhes o motor e o combustível, deixando-os à deriva depois de lhes furar a pequena embarcação. A possibilidade de se afogarem, com o almejado continente à vista, torna-se numa possibilidade muito provável.
Vale-lhes a marinha turca, que os salva, mas os leva presos. Três deles são expatriados para o país natal, enquanto a equipa de filmagem vê-se expulsa para França.
Mas, dois meses depois, Claire e Olivier, encontram Luqman e Fawad na Sicília. Sem dinheiro para irem mais longe, vivem precariamente, dormindo ao relento.
É a equipa que os filma a dar-lhes o dinheiro necessário para chegarem, primeiro a Roma e depois a Paris. Mas a cidade-luz não corresponde em nada ao que tinham imaginado: durante meses a fio andam às voltas com o labirinto burocrático onde procuram ser reconhecidos como refugiados. Instalando-se o tédio, senão mesmo o desespero de se verem num impasse sem solução.
Fawad tenta alternativa na Alemanha, mas também aí não será fácil encontrar alojamento e emprego.
A Europa significou para os dois afegãos, que a ela conseguiram chegar, uma profunda desilusão. E, no entanto, voltando a procurar os outros três em Cabul, Claire e Olivier encontram um deles disposto a arriscar de novo a aventura. Porque, dos outros dois, um está preso devido ao seu passado talibã, e o outro voltou para a casa dos pais.
No final, é evidente que, tendo alimentado tantos sonhos quanto á possibilidade de um futuro risonho, os cinco jovens foram confrontados com um muro demasiado alto para conseguir ser suplantado...
Sem comentários:
Enviar um comentário