O meu desconhecimento sobre a literatura indonésia é quase total, pelo que a sua divulgação na Feira do Livro de Frankfurt constituiu a oportunidade para me inteirar - mesmo que à distância e por interpostas reportagens - da diversidade cultural e da longa tradição literária do país que se define como constituído por “17 mil ilhas da imaginação”.
Mas o arquipélago possui uma história recente terrível - e os timorenses que o digam! - a conjugar-se com sérios problemas ambientais por solucionar. Razão para que alguns dos seus mais emblemáticos autores assumam um olhar extremamente crítico sobre o ambiente em que cresceram e vivem.
Okky Madasari denuncia a crescente influência do fanatismo religioso. Apesar dela própria se definir como muçulmana e trajar sempre com a cabeça coberta, sente-se inquieta pela permissividade das autoridades para com grupos minoritários, muito ativos na organização de manifestações de intolerância. Estão, assim, a romper-se equilíbrios entre comunidades religiosas, que, mesmo sob a ditadura militar, tinham convivido num clima de mútuo respeito.
Se nos quatro romances anteriores ela abordara as injustiças sociais, a violência e a corrupção, no mais recente - «Gebunden» («Mentiras») - conta o percurso complicado de dois jovens, um dos quais chegará a líder de um grupo islamista.
Outra escritora em evidência é Leila S. Chudori, conhecida jornalista de Jacarta, que pretende recordar o que foi a ditadura de Suharto, muito particularmente na forma como surgiu em 1965. A tortura e assassinato de dois milhões de comunistas bem como a segregação dos familiares, que lhes sobreviveram, continua a ser um dos problemas mais complicados na atual sociedade indonésia. Porque nenhum dos responsáveis por tal morticínio foi levado a julgamento, nem as suas vítimas indemnizadas.
«Pulang», o romance mais recente de Leila S. Chudori, passa-se entre Paris e Jacarta, contando histórias de indonésios que se exilaram e das famílias, que não saíram do país.
Outro autor a merecer referência é Andrea Hirata, que conheceu a dolorosa realidade do trabalho infantil nas minas de estanho da sua ilha natal, a de Belitung. Mas pôde frequentar a escola graças a uma professora muito empenhada que, quase sem quaisquer apoios, conseguiu ensinar os filhos dos mineiros.
Andrea Hirata evoluiria depois para uma carreira literária de grande sucesso por todo o país, já que os seus romances têm sido regularmente adaptados ao cinema.
Por razões óbvias ele revela-se como um fervoroso apoiante de todas as iniciativas destinadas a garantir a educação aos mais desfavorecidos.
Temos, assim, três autores que constituem boas sugestões para dedicarmos alguma atenção a uma literatura por muitos elogiada.
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