quinta-feira, dezembro 29, 2022

Murakami em dose dupla

 

Haruki Murakami para concluir o ano literário e cinematográfico: o livro de contos O Elefante Evapora-se, o filme de Ryusuke Hamaguchi Drive My Car, que revisito por vê-lo quase unanimemente classificado como o melhor de entre quantos se estrearam em Portugal no último ano.

A um e  outro vou apreciando por vários dias para prolongar a ambiência associável ao escritor em que o sonho e a realidade se misturam numa espécie de terra de ninguém em que a lógica se dilui e a estranheza -  até mesmo a magia! -, se impõe. Todos estão sós nas subjetivas leituras do que parece ser a realidade, porque o outro, mesmo coabitando no mesmo espaço, tem a sua íntima soma de fantasmas. No fundo todos estão sós, a contas com os próprios egoísmos e sentimentos de culpa, porque o irreversível, particularmente a morte, entra no campo das probabilidades.

Que o teatro e a vida se confundam tendo o Tio Vânia como pretexto, é apenas mais uma evidência em como tudo tende a amalgamar-se num caos interior onde a procura de um sentido se revela assaz difícil. 

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