Triste destino o das fotografias, que temos nos álbuns enfileirados numas prateleiras da cave. A acreditar no documentário de Joana Pontes (Visões do Império) acabarão na Feira da Ladra, ou numa das suas muitas equiparadas noutras cidades e vilas do país, sujeitas à curiosidade de colecionadores ou sociólogos interessados em delas colherem significados, que não consciencializámos quando as tirámos. Desconhecerão os nossos nomes, que vida tivemos, mas olharão para as poses com a curiosidade de refletirmos as fisionomias, os penteados, as vestimentas de uma época passada.
O digital comporta a vantagem de facilmente desaparecer nas reciclagens dos computadores, mas as fotografias em suportes físicos poderão ter vida remanescente antes de acabarem incineradas ou apodrecidas numa qualquer ETAR.
Para além da conclusão evidente de refletirem a forma como o salazarismo quis construir uma fútil narrativa sobre o seu ilusório Império, o documentário põe-nos a olhar para aquelas famílias e rostos singulares trazendo uma vez mais a consciência de quão ínfimos somos no curso da História. A glosada fórmula de Saramago tem todo o sentido: hoje estamos aqui, amanhã deixamos de estar. E, não havendo aléns redentores, num ápice seremos esquecidos.
Razão acrescida para nos agarrarmos com unhas e dentes ao presente, vivendo-o tão intensamente quanto ele no-lo possibilitar. Porque nenhuma outra oportunidade teremos para o fazermos. Pena só verdadeiramente o intuir passados os sessenta e com uma terrível doença a condicionar o tal futuro, para o qual passámos a vida a adiar os projetos, e agora a afigurar-se tão curto...
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