No poema de Baudelaire a grande e elegante ave, que costuma ver-se planar nos céus, perdia a capacidade de voar por obra e graça dos humores dos homens.
Assim sucede com Laurent, o comandante de uma brigada de polícias em Étretat no norte da França, cuja vida relativamente tranquila, passa ser condicionada por uma tragédia pessoal. Algo anunciado logo na primeira cena de Albatros, que Xavier Beauvois rodou em 2020: antes do genérico um casal de noivos está a tirar fotografias com vista para as célebres falésias da praia e quase lhes cai em cima o corpo de um suicida. Assim a modos de nos convencer da forte probabilidade de tudo se poder virar do avesso, quando menos esperamos que tal suceda.
Para Laurent o momento de viragem ocorre quando tenta evitar um amigo agricultor de se suicidar - farto dos parcos rendimentos e das continuas chatices com as inspeções sanitárias! - e é ele próprio a matá-lo com um tiro desajeitado.
Se o filme tivera até aí uma vertente quase documental sobre o dia-a-dia de um polícia na Normandia, passa a abordar o complexo de culpa do involuntário assassino numa segunda parte menos interessante do que a primeira, ademais concluída com um epílogo algo risível. Mas até chegarmos a essa cena com um vestido de noiva à mistura - e a interligar-se com a tal cena inicial! - Laurent irá passar por um complicado processo de redenção, traduzido numa viagem tormentosa por mar, que quase o leva aos abismos definitivos.
Não deixando de ser interessante a forma como Beauvois dá notícia das dificuldades por que passam os agricultores franceses, muitos deles a suicidarem-se quando o desespero não parece ter qualquer contraponto de esperança, Albatros sugere potencial que, infelizmente, se perdeu algures pelo caminho...
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