segunda-feira, dezembro 19, 2022

Coisas vistas: Quando a estranheza não chega a entranhar-se

 

Será o nudismo um modo de comportamento social, que facilita a sensação de liberdade? Ou a felicidade poderá resultar de nada de importante se desejar?

Quaisquer das questões, explicitas na primeira longa-metragem do belga Tim Mielants - Patrick, 2019 -, em nada coincide com o que penso, mas pus-me a ver um filme em que gente disforme, fisicamente nada atraente, se bamboleia sem roupas e consegui interessar-me até ao fim por o sentir diferente de quase tudo quanto o mainstream nos oferece habitualmente.

Começa com uma cena vista de grande altura com alguém a fazer de homem morto na superfície de um lago de águas transparentes. O zoom dá-nos a conhecer o protagonista, um quase quarentão com características autistas, que tudo repara no campo de nudismo gerido pelo pai e, nas horas livres, cria peças de mobiliário com um design assombrosamente belo.

A morte do progenitor e a perda de um martelo vão condicionar Patrick na gestão do parque, que passa a ser exclusivamente seu, eximindo-se do confronto com os clientes onde se afirmam as piores características de uma sociedade, que a dispensa dos trajes quotidianos não inibe de manter a cupidez ou a bisbilhotice. Armado em pífio detetive ele procura identificar o ladrão da peça de ferramenta, indo de fracasso em fracasso até acabar preso, suspeito de um crime com ela cometido na distante capital.

Sempre na corda bamba de resvalar para o excesso sórdido ou para o desinteresse, o filme lá se conclui num happy end, que deixa o desconforto de se o sentir inverosímil. Mas, entretanto, passou-se hora e meia na dúvida quanto a algum préstimo dele nos sobrar... 

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