É daquelas situações difíceis de entender: como foi possível a Werner Hochbaum rodar Irmãos em 1929, sobre as onze semanas de greve dos estivadores de Hamburgo no inverno de 1896/7 e ser acusado de propagandista do nazismo dez anos depois pelos Aliados?
Por pouca consciência ideológica? Difícil de crer em quem começava o filme com a frase inicial do Manifesto do Partido Comunista de Marx e Engels.
Por oportunismo e imperativo de sobrevivência no contexto de um regime, que não possibilitava grandes alternativas a quem o quisesse contestar? Talvez, mas morrendo em Potsdam no ano a seguir ao do fim da guerra, Hochbaum não teve a oportunidade dos colegas na UFA “reciclados” no pós-guerra como tarimbeiros ao serviço dos seus novos patrões que, no caso da Alemanha Ocidental, até eram os mesmos.
Apresentado com pompa e circunstância na mais recente Berlinale, o cuidado restauro de Irmãos suscita mais do que curiosidade: existe efetivo interesse estético nesta obra, que teve o arrojo de sair dos estúdios e optar por cenários naturais, ao mesmo tempo que recorria a atores não profissionais para explorar uma história de luta de classes personificada em dois irmãos, um ativo mobilizador da greve por melhores salários, o outro esbirro do corpo policial destacado para a reprimir...
Olhando para um tão poderoso exemplo do cinema proletário alemão pré-nazismo surpreenderá sempre sabê-lo criado por quem depois a ele viria a aderir sem aparente escrúpulo!
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