Há quarenta anos a distribuição em Portugal crismou-o de A Força do Poder, mas esse título não prevaleceu porque Scarface era-lhe mais ajustado. Ninguém pôs, igualmente, em causa que fosse um ator de origem italiana, Al Pacino, a encarnar esse Tony Montana vindo de Cuba, quando Fidel de Castro despejou as prisões e manicómios cubanos para com esses indesejados hóspedes engrossar o fluxo de emigrantes, que aportaram a Miami com vontade de singrarem na vida.
Durante quase três horas o astuto gangster subia os degraus até ao topo sem demonstrar o menor escrúpulo em matar quem dele constituia empecilho de maior ou menor importância. Porque na América de Reagan, enfeudada às teses execráveis dos gurus da Escola de Chicago, o dinheiro e o poder não se conquistavam graças ao honesto esforço de quem se limitaria a trabalhar num qualquer mal remunerado emprego. O mérito dos vencedores residia em mostrar-se mais ousado na quebra de todas as regras legais recorrendo ao crime para esmagar toda a concorrência.
Compreende-se que essa América, definitivamente entregue ao capitalismo selvagem depois do estéril idealismo de Jimmy Carter, não tenha gostado do retrato que dela dava Oliver Stone. Mas está lá tudo: a cupidez, a ganância corrupta e o narcisismo, que caracterizam os que, habitualmente, encabeçam as célebres listas da Forbes.
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