terça-feira, outubro 10, 2023

Léon Trotsky, um homem a abater, Marie Brunet-Debaines, 2022

 

Quase um século depois da morte de Lenine pode-se considerar que o fracasso da Revolução Russa, e de todas quantas as que sob a sua égide se sucederam, teve a ver com a perspetiva estalinista de barricar o regime em si mesmo, defendendo-o do cerco capitalista de quem os antibolcheviques eram exército prestimoso, e tendo por custo a deriva autocrática subsequente.

Poderia ter sido outro o destino da Humanidade se tivesse sido Trotsky a prevalecer com a sua tese sobre a Revolução Mundial: apenas se se internacionalizasse rapidamente ela melhor poderia responder à reação dos que possuíam o capital e o pretendiam continuar a acumular.

Pode-se, porém, pôr em causa a eficácia das suas decisões: como se deixou enganar, e ser o único dirigente de topo do partido a não estar presente no funeral de Lenine, quando Estaline aproveitou a ocasião para ascender ao topo do poder no Kremlin.  Estava então no Cáucaso numa das deambulações de comboio, que fazia por toda a União Soviética para melhor consolidar a ação do Exército Vermelho de que fora o criador. E que, incompreensivelmente, não utilizou em seu favor, quando Estaline o foi consecutivamente afastando e, depois, reprimindo.

O documentário de Marie Brunet– Debaines não escalpeliza as divergências ideológicas entre Estaline e Trotsky, que eram atiçadas pelo ódio, que dedicavam um ao outro, a pretexto das diferenças culturais entre ambos. O foco incide no atentado de 21 de agosto de 1940, quando o espanhol Ramon Mercader assassinou o revolucionário russo no México como corolário de uma operação minuciosamente planeada pelo chefe das missões especiais do KGB, Pavel Soudoplatov, em 1937.

Estaline desembaraçou-se assim de um rival, que denunciava a sua mesquinhez pessoal, a mediocridade intelectual e a incompetência de quem não previra o perigo que Hitler representaria para a União Soviética a partir de junho de 1941. E a que Trotsky já não assistiria embora esses acontecimentos só lhe confirmassem as razões para maldizer o rival.

Embora sobre esta trama seja recomendável o romance que o cubano Leonardo Padura (O Homem que gostava de cães), o documentário tem as boas qualidades, que os dedicados à História sem filtros mal intencionados costumam comportar.

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