domingo, outubro 15, 2023

Paysages Résistants, Marta Popidova, 2021

 

Tenho uma profunda admiração pelos comunistas da velha cepa, que lutaram denodadamente contra o nazismo e outras formas de fascismo, sem jamais porem em causa a justeza dos seus esforços. Daí muito prezar o filme de Marta Popidova sobre Sonja Vujanović, uma das primeiras combatentes da Resistência Jugoslava contra a ocupação alemã e, depois em Auschwitz-Birkenau, a afirmar-se como líder da mesma atitude revolucionária contra as autoridades do campo de concentração.

Marta Popidova e Ana Vujanović filmaram o testemunho de Sonja durante catorze anos para aferirem até que ponto poderá haver um fio de continuidade entre a geração da anciã e a da juventude de hoje, não menos ameaçada pelo tipo de exploração desenfreada, que o sistema continua a desenvolver nas sucessivas metamorfoses. Porque as duas entrevistadoras sentem-no nos dias de hoje tanto mais que a sua relação afetiva é ameaçada pelo regime atualmente vigente em Belgrado, não só caracterizado pelo capitalismo selvagem de acordo com os valores europeus soprados de Bruxelas, mas também pela homofobia, que quase impõe prudente clandestinidade a quem transgride a regra da heterossexualidade.

Resistentes do século XXI, mesmo que exiladas em Berlim, Marta e Ana buscam inspiração no exemplo de Sonja, que nunca abdicou da que considera a arma mais eficaz para responder à barbárie: o humanismo, a vigilância e a militância ativa permanente. Mensagem que, nos dias atuais, não podia ter maior pertinência.

Mas para potenciar o efeito das palavras de Sonja optam maioritariamente por as dar a ouvir em off com imagens e sons dos campos e das florestas a interligarem-se-lhe como se, na sua intemporalidade, confirmassem esse mesmo juízo sobre o que constitui um notável memorial a quem muito lutou e, lembrando a classificação brechtiana, sempre se quis imprescindível na luta por um mundo melhor. 

Sem comentários: