Posso ter conhecimento aprofundado de muito do que neles são mostrados, mas alguns documentários são-me particularmente gratos como “revisão da matéria dada” com a vantagem de ma darem a reconhecer em imagens até agora ignoradas. Ademais somam-se testemunhos de analistas ou participantes nos acontecimentos, que conferem rostos a ideias e factos até então cingidos à sua abstrata noção.
Tomo por exemplo dois filmes agora apreciados: Uma Guerra Fria Muito Animada de Joel Farges (2020) e Conceição Matos—Coragem hoje, Abraços amanhã de Edgar Feldman e Paulo Guerra (2021).
No primeiro caso não é que seja nova a revelação da guerra de imagens entre a Hollywood de Walt Disney (tão crápula no seu anticomunismo, que foi ativo denunciante de colaboradores seus a quem despediu sem escrúpulo apesar de tanto o terem ajudado a construir o seu império!) e os regimes estabelecidos no leste europeu onde preponderaram filmes de animação vocacionados para privilegiar valores como a solidariedade, a amizade e a justiça social, tão opostos aos do Capitão América e outros super-heróis “especializados” em derrotarem os vilões vermelhos.
Na história da humanidade nunca se publicaram ou filmaram tantas histórias de animação destinadas a influenciar as mentes infantis e juvenis. Porque se uns quiseram evitar o desiderato ocorrido em 1989, outros quiseram-no forçar através da manipulação dos que o concretizaram de um e do outro lado do muro de Berlim.
Aparentemente os paladinos do lucro e da liberdade dos mercados parecem ter vencido, mas será que demoraremos muito a compreender que uma humanidade sem valores está condenada ao apocalipse de que as mudanças climáticas são apenas uma das anunciadas manifestações?
No filme sobre a resistente antifascista, que começámos por descobrir atrás de Álvaro Cunhal nas fotografias do regresso de exilados a Portugal em 30 de abril de 1974, conhecemos o relato na primeira pessoa de quem viveu a miséria extrema dos operários e camponeses durante os salazarentos anos do pós-guerra e, por isso, aderiu ao Partido Comunista.
A violência brutal a que se sujeitou nas prisões da Pide com expressiva recordação de como se comportavam os torturadores deveria ser de divulgação obrigatória a todos os jovens, que olham para esse passado e o julgam pré-histórico. E, por isso, não se defendem da atração por quem nele se inspira e não teria qualquer escrúpulo em replicar. Razão para considerar este e o outro documentário como ferramentas pedagógicas muito pertinentes.
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