sábado, janeiro 09, 2021

(OF) Brâncuși e a sua ligação às origens

Não é verdade que Constantin Brâncuși tenha caminhado pelos seus pés entre Bucareste e Paris para aí estudar na Escola Superior de Belas Artes. Fê-lo entre a capital romena e a aldeia natal, Hobita, em 1903, para visitar a mãe, mas o resto do percurso foi feito de comboio, com uma escala em Viena, arranjando emprego como operário para custear o resto da viagem e os primeiros tempos em Paris. Daí que só em 1904 aí tenha chegado para aprender o suficiente com os académicos para logo os pôr de lado com as novas ideias, que dele fariam um pioneiro da abstração e um cultor da singular elegância de que se revestem as suas obras.

O pedestal perdeu a função tradicional incorporando-se na própria escultura onde induz as influências colhidas na arquitetura da terra natal em que as casas de madeira ostentavam motivos geométricos com fins decorativos. Interessou-o o losango a tal ponto que, quando, em 1938, instalou a sua Coluna Infinita em Turgu Jiu, foi essa a forma escolhida para criar essa estrutura de 48 metros de altura.

O vanguardismo de Brâncuși era aparente, porque eivado de uma espiritualidade, que o levava a traduzir nas obras os conceitos místicos recolhidos na religião ortodoxa. Nunca esqueceu as três horas de caminhada de todos os domingos em que, com a mãe, ia à missa no mosteiro de Laitini. Mas associava essa propensão para a transcendência num certo animismo decorrente dos passeios pela natureza pelos campos em redor da aldeia natal. Oiseau dans l’espace (1923) é exemplar quanto a essa tradução em mármore e bronze da imagem concreta dos pássaros a esvoaçarem nos céus e traduzida na sua requintada estilização.

Pode-se, pois, considerar que Brâncuși como paradigma de uma revolução estética alicerçada nas ligações a uma inequívoca ancestralidade. 

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