Que eu tivesse dado por isso, existem dois livros de Aimee Bender traduzidos em português: A Alquimia das Cores e A Frágil Doçura do Bolo de Limão. Insuficientes para darem a conhecer aos leitores portugueses aquela que muitos apontam como das mais talentosas escritoras norte-americanas atuais. Com algumas afinidades relativamente a Siri Hustvedt, mas dela se dissociando quando transfigura a paisagem doméstica através da magia, da fantasia, do encantamento.
Penaliza-a, igualmente, a irregularidade com que vem publicando as suas histórias em forma de livro, muito embora revistas como a Granta a acolham amiúde. O romance mais recente data do ano ainda há pouco concluído e tem em Francie, a protagonista, a olhar para o passado e a questionar a importância de acontecimentos aparentemente sem grande importância - uma borboleta a flutuar num copo de água, um besouro ressequido no interior de um diário escolar ou um ramo de rosas murchas - no seu inequívoco fascínio pela definição da fronteira entre os objetos e as pessoas.
A história começa em Portland, quando ela tinha oito anos e preparava-se para ir ao encontro da tia Minnie em Burbank, na grande metrópole de Los Angeles. A mãe enlouquecera, fadada para o irreversível internamento no hospital psiquiátrico. O percurso subsequente pela cidade, que também é a dos sonhos hollywoodianos, acaba por lhe dar a perceber ser também a dos anjos mortos, do esquecimento e dos leilões de garagem.
No discurso literário de Aimee Bender há uma atenção obsessiva aos objetos quotidianos e este The Butterfly Lampshade só confirma essa característica evidenciada nos títulos anteriores.
Não sendo de leitura fácil - até porque a sugestão simbólica para outras interpretações - está sempre presente, a obra de Aimee Bender bem merece atenta apreciação sob pena de passarmos ao lado de um dos melhores exemplos do que a literatura norte-americana tem para oferecer nos anos recentes.
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