Nunca simpatizei com Bebel apesar dele ter sido, em determinada altura, o mais popular dos atores franceses. Filme que o tivesse como cabeça-de-cartaz era garantia de milhões de bilhetes vendidos e de salas cheias por toda a França, porque os espectadores procuravam um tipo de entretenimento pouco exigente para as meninges, com algumas piadas - às vezes alarves! - que os fizessem rir e com arriscadas acrobacias para as quais Belmondo sempre dispensava os duplos, já que adorava as atividades físicas e até fazia boxe amador.
Para a xenofobia dos machos gauleses funcionava igualmente a capacidade para ter seduzido e desposado uma das mais idolatradas atrizes de então, Ursula Andress, e sugerir que outras beldades não escapavam ao seu encanto. E, no entanto, na escola onde aprendeu a ser ator, o professor mais reputado profetizou que ele tinha um rosto tão feio, que nunca serviria para papéis de protagonista, restando-lhe os secundários em que meliante seria o mais lógico desempenho.
Belmondo tinha, porém, alguma sorte, a começar pelo facto de ter por pai um escultor bastante conhecido nos ambientes artísticos: Paul Belmondo. O efeito «filho de ...» funcionou a seu favor. E, melhor ainda, teve Jean Luc Godard a escolhê-lo como um dos primeiros ícones da nouvelle vague através do seu desempenho em O Acossado(1960). Mais tarde, quando já transitara para comédias populares ou policiais, Godard permitira-lhe novo impulso à carreira estagnada com Pierrot le fou (1966). Algo que Truffaut também replicaria, quando o viu como o parceiro de Catherine Deneuve em A Sereia do Mississipi (1969). A verdade, porém, é que o feitio estroina e falta de cultura, fazia de Belmondo um ser esdrúxulo ao ambiente desse movimento cinematográfico tão importante para revolucionar a forma como se concebiam os filmes a partir dos anos 60.
Não era nas revistas especializadas na Sétima Arte que Belmondo ganhava prestígio. Pelo contrário encontrava-o nas revistas cor-de-rosa onde as relações amorosas ganhavam destaque a par das brincadeiras a que se dedicava com inegável prazer. Uma vez, na Flórida, durante a rodagem de um filme de Philippe de Broca, suscitou a expulsão do hotel de toda a equipa de filmagem por ter decidido comprar crias de crocodilos e espalhá-los pelos corredores do edifício lançando o pânico nos demais hóspedes. Ou, igualmente, pela zanga com o amigo Alain Delon, que chegou aos tribunais, porque em Borsalino (1970), este tinha maior destaque nos cartazes, já que associava a função de ator com a de produtor.
Quando a idade já não o credibilizava como sedutor de jovens comparsas, o cinema deixou de contar com ele, obrigando-o a reciclar-se nos palcos de teatro onde não voltara desde os verdes anos. Pela primeira vez ganharia um prémio de interpretação, mas que já não lhe terá dado alegria bastante para compensar a sensação de ter passado ao lado de percurso bem mais memorável. Porque, na verdade, embora Bruno Sevaistre tenha-lhe dedicado um documentário de hora e meia em 2017—Belmondo, le magnifique - dele pouco mais se recordarão do que os filmes rodados com Godard ou Truffaut porque, quase tudo o resto é para esquecer!
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