terça-feira, janeiro 26, 2021

(DIM) Klimt, Schiele e .. Wilhelm Reich

 


1. Klimt e Schiele—Eros e Psique: a longa-metragem vista esta tarde foi mais do que a revisão da matéria dada sobre o ambiente cultural na Viena imperial dos finais do século XIX e nos primeiros anos do que se lhe seguiu. Não deixa de ser surpreendente que, no ambiente conservador das valsas de Strauss, tenha medrado uma revolução tão ampla como a que teve em Freud o grande perscrutador das profundezas da mente, em Klimt ou Schiele os inventores de uma forma tão inovadora de representar o corpo, ou em Mahler o criador de uma revolução sinfónica, complementada em simultâneo pelo atonalismo de Schönberg.

A explicação para esse paradoxo residirá na conhecida fórmula das públicas virtudes a esconderem os vícios privados. Todos os valores cristalizados sobre a religião, a política ou os comportamentos sociais - então dominantes nos discursos oficiais e na imprensa deles tributária! - não resistiam aos sinais emitidos por quem valsava com o conjugue e não se privava de cumplicidades clandestinas com os amantes. A mesma burguesia, que alimentava acusações contra as obras escandalosas dos secessionistas, garantia negócio muito rentável a Otto Schmidt, o fotógrafo muito ativo na criação de «nus artísticos» a partir do seu estúdio.

Nos pintores mais representativos desta escola artística a freudiana oposição entre Eros e Thanatos está sempre presente, como se essa vontade de emancipar o desejo amoroso tivesse em contraponto a ameaça da finitude. Mas, quando o beijo de Klimt se explicitava na sua magia, o fundo em forma de poeira dourada apontava para uma ligação de alcance cósmico.

Há quem apresente o ano de 1918 - o da morte dos dois artistas - como aquele em que o breve esplendor desse período vienense se concluiu, pois o fim do império e a destruição suscitada pela Guerra fizeram emergir novos valores e estéticas. Mas talvez esse final tenha ocorrido naquele dia de 1907 em que, magoado com os libelos antissemitas contra si dirigidos pela imprensa, Gustav Mahler partiu para a América. Na estação de comboios onde se vieram despedir dele os amigos terão gritado que essa partida equivalia a tudo ter acabado.

2. Num programa de Luís Caetano na Antena 2 o psicólogo Luís Fernandes sintetizou o distanciamento de Wilhelm Reich em relação ao seu mestre - Freud - na consideração do que deveria implicar uma terapia psicanalítica. Enquanto este último cingia-se ao tratamento da mente, perscrutando-lhe a origem dos comportamentos disfuncionais, o discípulo não dispensava igual atenção ao corpo, também ele passível de se sujeitar a terapêuticas facilitadoras das libertadoras catarses. Só se estranha que, depois de conhecer horas de glória nos idos dos anos sessenta e setenta, o autor de A Revolução Sexual tenha caído em tão injusto esquecimento.

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