A fruição de O Último Cabalista de Lisboa foi tão memorável que nunca mais deixei de ler tudo quanto de Richard Zimler vai saindo exceto quando dirigido preferencialmente aos leitores infanto-juvenis. Os irmãos Cohen de Os Anagramas de Varsóvia, Benjamin Zarco ou o Lázaro do Evangelho foram outros personagens que vieram confrmar a justeza dessa fidelidade enquanto leitor. Que não é refreada pelo facto de não sentir tão pronta adesão a outros romances, como agora sucedeu com Os Insubmissos, que não conhecera tradução portuguesa até agora apesar de, cronologicamente, ser o que se seguiu ao relato do sucedido durante o progrom de abril de 1506 em Lisboa.
Quero crer que não terá sido a vertente mais marcadamente queer a justificar-me apreciação menos superlativa, embora a dúvida me tenha acompanhando durante toda a leitura: será que o apoio racional às reivindicações LGBT não me poupa um certo preconceito homofóbico, que desejaria não ter? Ou será que as competências literárias de Zimler se apuraram com os anos e os títulos, compensando na forma o eventual menor interesse por intrigas não tão sugestivas quanto a primeira?
No caso deste romance temos um triângulo amoroso entre três homens, que percorrem as estradas entre o Porto e Paris, onde o mais novo, António, comparecerá à audição de um mestre da guitarra para ser aceite como seu aluno. Quem planeara e custeara a viagem fora o narrador, um professor americano exilado no Porto desde que a epidemia da Sida lhe levara o irmão e muitos dos amigos no outro lado do Atlântico, procurando o ambivalente luto à distância de todo um oceano.
António fora seu amante e aluno, mas quanto ao domínio da guitarra sente que já não lhe pode ensinar muito mais. O talento do rapaz é tal, que só um mestre mais competente o projetará para uma carreira de solista embora condicionada pela contagem decrescente para a morte por ele próprio estar contaminado com a doença.
Acompanha-os Miguel, o pai decidido a conhecer melhor o filho e a eventualmente dele se fazer perdoar pela incompreensão e indiferença com que o tratara até então. Entre ele e o professor existirá uma turbulenta relação de amor-ódio, ora manifestada numa violenta agressão em Salamanca, ora em breves e equívocos momentos de prazer sexual.
É uma história on the road em que a paisagem vai desfilando sem suscitar grandes estados de alma, porque são estes a ganhar proeminência em exacerbadas disputas verbais, seguidas das consequentes ressacas alimentadas a doses crescentes de valiuns.
Chega-se ao final do romance com o que costumam ser os efeitos das viagens nos personagens literários: quando as concluem algo de significativo neles mudou. Poderão ter-se fechado umas portas, mas outras se escancaram para melhor se identificarem com quem, intimamente, são!
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