domingo, janeiro 17, 2021

(DL) Recordar Gabriela Mistral

 

Uma reportage


m televisiva no vale chileno onde nasceu Gabriela Mistral trouxe-me de volta a personalidade de uma escritora admirável, amiga de Pablo Neruda e que chegou a estar colocada em Lisboa como diplomata.

Nascida em Vicuña em 1889 logo teria um dos primeiros traumas, que a marcariam no resto da vida: ainda bebé viu o pai desaparecer de casa, abandonando-a e à mãe sem cuidar de as voltar a procurar. Chamava-se ainda Lucila Godoy Alcayaga e tinha origens bascas e ameríndias, muito embora a tradição judaica também a viesse a influenciar mesmo nada o justificando geneticamente.

Aos 16 anos começou a ser professora auxiliar numa escola da sua pequena vila de dois mil habitantes, transitando depois, já aos 22, para o efetivo desempenho da profissão sendo colocada na austral Punta Arenas, que lhe deu o leitmotiv e o título para a sua primeira antologia de poemas: “Desolacion”. Vivera, entretanto, um desgosto amoroso insanável, porque o alvo da paixão preteriu-a em favor de outra rapariga e viria a suicidar-se nessa mesma altura de exílio interior no extremo sul do país. Os ardores das paixões frustradas estariam continuamente nos seus versos como forma de catarse relativamente à decisão de renunciar em definitivo ao casamento e até às relações amorosas. Na poesia compensaria, igualmente, a impossibilidade de ser mãe, tendo textos vibrantes sobre as alegrias da maternidade, em paralelo com os mais conhecidos, dedicados aos mais humildes, merecedores da sua solidariedade. Preferindo os versos curtos, libertou-se dos embaraços da rima e da simetria das estrofes.

Em 1945 a Academia Sueca atribuiu-lhe o Nobel, fazendo dela a primeira de entre os escritores latino-americanos a consegui-lo. Por essa altura já acrescentara mais duas antologias de poemas à obra - “Ternura” e “Tala” -  e cumprira cargos diplomáticos em sítios tão diversos como Madrid, Guatemala, Nice, Los Angeles ou a nossa capital.

Nos últimos anos ainda publicou mais uma antologia - “Lagar” - mas o cancro foi-a despojando de energias, acabando por falecer em 1957.

Sem comentários: