De vez em quando há restauros, que dão o ensejo de conferirem uma segunda vida a filmes injustamente esquecidos e que merecem bem uma nova oportunidade. Sucede isso com Clash de David Cronenberg, que tem passado agora no Nimas, e com Mr. Klein de Joseph Losey, por esta altura a ser alvo de atenção em França.
Estreado nos finais dos anos 70 constituiu um fracasso comercial, embora tivesse a caução de contar com Joseph Losey na realização. Escapado do macartismo e tendo feito carreira no cinema inglês, ele encontrou no tema do filme a possibilidade de abordar o lado kafkiano das perseguições políticas, fossem elas focalizadas nos comunistas (como constituíra o motivo da sua saída dos EUA), fossem contra os judeus durante o período da Ocupação nazi, que era o do contexto da história relatada no filme.
Alain Delon, também produtor desta obra, desempenha o papel de Robert Klein, um comerciante católico sem pruridos políticos, que vê na perseguição aos judeus a oportunidade de fazer bons negócios, comprando-lhes o que têm para vender antes de partirem para a salvação. O problema é existir um outro Robert Klein judeu, com quem ele é confundido e procurado pelas autoridades.
Numa corrida contra o tempo, Robert Klein procura o homónimo sem nunca o encontrar, E, na semana da imensa rusga, que conduziu milhares de judeus para o Velódromo de Inverno, donde partirm para os campos de extermínio, ele acaba inevitavelmente capturado, tendo como companheiros de infortúnio muitos daqueles com quem negociara numa posição de força, que deixara de ser a sua.
Para além das deambulações de Klein para encontrar a sua sombra - se nos ativermos no título com que o filme se estreou em Portugal - são também as suas cogitações interiores as que servem de abordagem a Losey. Essa crise existencial combina-se com o tema do duplo e da substituição para constituir uma obra assaz interessante e que continua bastante atual....
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