A Ilha do Tesouro só surgiria daí a cinco anos mas, quando Robert Louis Stevenson fez um périplo pelas Cevenas em 1768 já o animava a intenção de dedicar-se à escrita a tempo inteiro, hipótese de que o pai nem queria sequer imaginar por ser outro o futuro para que predestinava o rebento. Outra razão o trazia ao maciço Central francês: um desgosto amoroso, que o predispôs para uma aventura como tantas se seguiriam, porque o gosto pelas caminhadas sempre o caracterizaram. Mesmo acompanhado por um burro como o que teve honras de surgir no título no seu diário Travels with a donkey in the Cevennes.
A chegada de Stevenson a Le Monastier-sur-Gazelle foi aparatosa: apesar de falar francês fluentemente - mesmo com forte sotaque escocês - ele era uma espécie de alien subitamente aterrado numa terra montanhosa, eivada de preconceitos e superstições. Por ali andava a lenda da besta de Gevaudan, que aborda como motivo de reflexão sobre as idiossincrasias desses habitantes, as mais das vezes desconfiados quanto à razão de ser da presença de tão estranha figura naquelas terras. Mas, embora impenitente ateu, Stevenson mostrou empatia com o misticismo de quem ali vivia à parte das mudanças que não tardariam a expressar-se na tomada da Bastilha e no derrube da monarquia. Sobretudo se eram descendentes dos protestantes, que se tinham sujeitado a tão ferozes perseguições.
Chegado a Saint-Jean-du-Gard Robert Louis Stevenson deu a viagem por concluída sem adivinhar que, dois séculos e meio depois, muitos caminhantes lhe seguem as pisadas pelos sítios em que então cirandou...
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