São muitos os documentários, que tendem a deixar os seus espectadores frustrados, porque partem de uma tese inicial, que contradiz outra, por muitos tida como irrefutável, e, depois de equacionada à luz de argumentos contraditórios, acaba por nada concluir em definitivo.
Este é só mais um exemplo: pegando num busto da deusa romana Flora, pertencente ao acervo do Museu Bode em Berlim, analisa quem terá sido o seu escultor, havendo quem se divida entre Leonardo de Vinci e Richard Cockle Lucas, artista do século XIX, que especializara-se na recriação de obras de acordo com os métodos e estética renascentista.
A polémica já data do início do século XX, quando Wilhelm Bode comprou a estátua de cera em causa para garantir a presença do grande artista italiano nas coleções imperiais de Guilherme II.
Apesar do recurso às tecnologias mais avançadas, que procuram datar o mais criteriosamente possível os materiais utilizados na obra, os especialistas continuam divididos em dois campos inconciliáveis, uns atribuindo-a ao criador da Gioconda, os outros a teimarem na sua origem britânica.
Por agora nem sequer o recurso ao carbono 14 consegue dissipar as dúvidas, que redundam afinal numa questão essencial: que importa tratar-se ou não de uma obra de Leonardo? Não basta apreciá-la independentemente de quem e do porquê de ter sido criada? Às tantas temos de reconhecer estultas muitas das polémicas, que agitam os meios culturais por mais não serem do que pretextos para os onanísticos exercícios dos seus intervenientes.
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