segunda-feira, novembro 21, 2022

Miolo: O que tem substância e o que é só espúrio maniqueísmo

 

Aquilo que eu Amava  é um dos romances que ando a ler dando para perceber, porque o marido da autora - Paul Auster - tanto a enaltece: bastam cinco páginas de cada vez para ficar com a noção de ter lido muitas mais. Porque fico a saber tanto sobre cada uma das personagens de Siri Hustvedt que, apesar de intelectuais de Manhattan, têm uma espessura inexistente nas de um Woody Allen. Até mais seguras de si próprias do que as conhecidas nas histórias de quem assume ser ela quem, em casa, continua a ser a mais exigente e imprescindível das suas críticas.

 

Volto a ouvir a música de Mori Kanté que tanto animou as pistas de dança dos finais dos anos 80 com o seu  "Yé ké Yé ké"  e dando a descobrir o som da cora mandinga. A maioria dos que apreciaram o tema nunca pressentiram o quanto a música do cantor guineense decorria da filiação na tradição dos griots, os representantes da cultura de transmissão oral de histórias de aldeia em aldeia pela qual se difundiam os valores ancestrais e se promoviam idealizados modos de comportamento de quem os ouvia. E para a qual Kanté fora intensamente preparado desde criança...

 

Vou vendo uma coisa esdrúxula de produção francesa chamada Apocalipse, Guerra dos Mundos, realizada por  Isabelle Clarke e Daniel Costelle, bom exemplo da intoxicação ideológica destinada a impor uma perspetiva maniqueísta sobre a História humana nos últimos oitenta anos. Os comunistas são diabolizados, os norte-americanos idolatrados e os pobres dos franceses incapazes de evitarem o desastre na Indochina.

Imagina-se que, produzido por soviéticos ou chineses, constatar-se-ia a mesma menorização do inimigo imperialista e a idealização dos motivos para o terem combatido.

É tão rara a intenção de se analisarem os acontecimentos com a preocupação de equilíbrio, que melhor expliquem o sucedido! E possibilitem a interpretação da atualidade, mormente a da guerra na Ucrânia, sem as paixões, que enviesem quem as discute como se a expressão da sua vontade bastasse para a vitória de quem considera estar no seu lado da barricada. 

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