segunda-feira, novembro 14, 2022

Miolo: o ambíguo arrependimento de um nazi

 


12 de novembro de 2022

Continuo a interessar-me pela Segunda Guerra Mundial, voltando amiúde a documentários, que repetem a canónica leitura das suas vicissitudes, muito embora desconfie pertencer a uma tribo de moicanos em extinção por óbvio distanciamento das gerações mais novas  em relação ao que lhes é pré-histórico no sentido de anterior à consciência da sua realidade.

Poderíamos pensar na pertinência deste tipo de propostas à luz das conclusões delas recolhidas, que inviabilizassem o regresso de formas mais ou menos disfarçadas do mesmo tipo de ideologia, mas muitas das realidades internacionais desmentem esse utópico desejo.

Ademais não faltam documentários, que colocam questões pertinentes, mas concluídos sem lhes darem respostas definitivas. Por exemplo num que acabo de ver sobre o processo de Nuremberga que, a partir de 20 de novembro de 1945, colocou no banco dos réus vinte e um dos principais dignitários do regime nazi, apontados como responsáveis pela morte e sofrimento de muitos milhões de pessoas.

Um desses criminosos era o arquiteto Albert Speer, que se incumbira do Armamento da Wehrmacht nos três anos anteriores à derrota e a quem, graças ao trabalho forçado de muitos prisioneiros dos campos de concentração, se deveu o crescimento de produção, que os Aliados não souberam evitar, mesmo com recurso a intensa sucessão de bombardeamentos.

Graças a uma suposta vontade de redenção, reconhecendo preto no branco, a natureza criminosa do regime de que fora um dos principais títeres, Speer conseguiu evitar a forca e sair-se com uma pena benigna, que lhe renderia quinze bons anos de tranquila e rentável existência em liberdade à conta dos best sellers com que foi adornando os escaparates das livrarias alemãs.

Sobre ele questiona-se: seria genuíno o arrependimento ou ele era a expressão de um cínico sem escrúpulos, cuja vaidade motivara as sucessivas opções de vida? Infelizmente o filme em causa não deu definitivo juízo sobre uma interrogação, que possibilitaria melhor enquadrarmos as características de quem dá forma e apoio a esse tipo de ditadura.

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