Enquanto proposta cinematográfica, No Coração do Bosque tem mitigado interesse: sucessivos prostitutos e prostitutas, que ganham a vida no Bosque de Bolonha alternam perante a câmara - sentados com a floresta como cenário de fundo, ou no recolhimento das carrinhas, que lhes serve de abrigo -, e relatam as suas experiências e expetativas. As primeiras são o que se esperam ouvir: a atração por um rendimento acima do que permitiriam as competências para outros ofícios, a violência a que se sujeitam, o impacto que as alterações políticas e sociais comportam. As segundas são invariavelmente baixas tendo em conta a total desproteção social com que contam à medida, que os anos se acumulam.
Para que serve, então, um filme deste tipo, cuja temática nada traz de novo à luz do que tem sido glosada em tantas ocasiões, quer na forma ficcional, quer na de documentário? Para além da satisfação de um certo voueurismo dos espectadores, que possam querer saber mais sobre um microcosmos, que lhes atiça os fantasmas, mas ao mesmo tempo os assusta (e em França tudo mudou com a criminalização legal dos clientes, que fez diminuir o numero dos potenciais clientes destas almas penadas!), não se vislumbram outras razões, porque os estudos sociológicos sobre o assunto têm outras metodologias e profundidade.
No lado mais sensacionalista pode-se atender ao testemunho de um travesti português, que até canta um fado, ou ao lado efabulatório de muitas daquelas histórias como se alguns dos protagonistas precisassem de conferir algum romantismo ao que é simplesmente sórdido. Por muito que tenha saído consagrado do Indie de 2021 com o Prémio do Público.
Sem comentários:
Enviar um comentário