1. Socorro-me de uma referência de Albert Manguel a Georges Courteline no seu Um Diário de Leitura para ilustrar a minha relação com Deus: conheço-o vagamente de ouvir falar, mas não intimamente que dê para jogarmos bilhar juntos!
Não encontraria melhor fórmula para expressar essa nula interligação!
2. Para que serve Watermill? É a pergunta feita a Robert Wilson no final do documentário A Living Space (2015), que retrata os cinquenta dias do workshop de verão de 2014 no centro de artes performativas, que o encenador e artista fundara nos arredores de Nova Iorque em 1992. E a resposta é lapidar: para fazermos o que mais ninguém faz.
Os cinquenta e poucos minutos do filme servem para demonstrá-lo porque, seja em propostas de dança, escultura, música ou outras vertentes artísticas existe ali uma imaginação, que dificilmente se encontra alhures. E por ali passam Jim Jarmusch, Lucinda Childs, Philip Glass e Daniel Liebeskind a contribuírem, com as suas ideias, para estimularem a centena de jovens das mais diversificadas origens, que procuram caminhos novos para a sua ânsia criativa.
Se há muito admiro Wilson, o documentário de Jakub Jahn só confirma essa rendição a tudo quanto imagina para os seus memoráveis espetáculos.
3. Nunca esqueci a noite escura em que regressávamos de Albi a Toulouse pela estrada nacional - que a autoestrada ainda estava por construir - e quase não nos cruzávamos com outras viaturas.
De repente o céu iluminou-se e a opacidade da noite transmutou-se brevemente numa paisagem tão nítida como se fosse dia claro. Não sobraram dúvidas quanto a pequeno meteoro ter entrado na atmosfera por cima das nossas cabeças e dado conta dessa sua definitiva destruição.
Centenas de objetos semelhantes caem na Terra semanalmente de acordo com o catálogo de objetos sujeitos à vigilância permanente de muitos astrónomos. E que as agências espaciais norteiem alguns esforços para testarem a capacidade de os desviarem se algum deles, de dimensão perigosa, se dirigir ao nosso planeta e ameaçar a repetição do sucedido há 65 milhões de anos, quando desapareceram os dinossauros. É que o calhau em causa não tinha mais do que 50 kms de diâmetro, mas comportou expressivo potencial apocalítico.
Os avisos quanto a essa possibilidade não faltam: houve a queda de um meteoro em Tangouska, na Sibéria russa, em 1908, mas a sorte ditou que sucedesse numa vasta região apenas habitada por alguns pastores. Ou o que tombou inesperadamente no Ural em 2013, com 16 metros de diâmetro e explodiu a 30 quilómetros de altura, sem nunca ter suscitado a atenção de quem o deveria ter rastreado.
Tem-nos valido a atmosfera como escudo de proteção de uma ameaça, que torna legítimo o receio dos gauleses do tempo de Astérix quanto à queda do céu sobre as suas cabeças!
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