Não é um dos meus pintores preferidos: Peter Paul Rubens aparece-me como voluntário instrumento da Contra-Reforma satisfazendo sucessivas encomendas destinadas a servir de propaganda para impor a superioridade do catolicismo contra os que Roma entendia como hereges. A única expressão artística em que “esqueço” a mensagem ideológica subjacente é na grande música, mas como ficar indiferente à transcendente beleza das obras de Bach? Como diria Stephen Jay Gould, quando comentava os versos antissemitas da Paixão Segundo S. João - apesar de ter raízes judaicas! - há emoções, que se sobrepõem à racionalidade dos pressupostos. No fundo o que me leva a gostar tanto de Wagner apesar da sua instrumentação pelos nazis...
E, no entanto, é de emoções, que os quadros de Rubens se preenchem: naquele em que satisfez uma das suas primeiras encomendas, o da ascensão de Cristo para a cruz, incluiu tantos detalhes minuciosos na expressão de quem assiste à cena ou como dispôs o protagonista no centro do tríptico, que confirma a intenção de alcançar na tela o que Bach conseguiu com as notas musicais.
Por essa altura ele já estivera oito anos em Itália a deixar-se influenciar pelo claro-escuro de Caravaggio ou pelas cores de Ticiano. E, no entanto, se olharmos para o conjunto da sua obra, como não distinguir os quadros do último período de vida quando, rico e quinquagenário, se apaixonou pela segundo mulher, a mítica Helène Fourment e a tornou musa de um número inesgotável de quadros e desenhos? As suas opulentas formas deram a melhor expressão ao que, no pintor, se traduzia na exuberância com que retratava o feminino e lhe enaltecia a sensualidade.
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