domingo, janeiro 09, 2022

E se a melhor nos filmes musicais fosse Eleanor Powell?

 

Os canais por cabo andam a  dar-nos a oportunidade de rever “Idílio Musical” de Norman Taurog que foi, em 1940, o quarto e último filme da série «Broadway Melody» e me facultou inesperada revelação. Porque se aceito Astaire como bailarino talentoso que, a par de Gene Kelly, iluminava todos os filmes em que dançava, ou Norman Taurog como um daqueles tarimbeiros de Hollywood capazes de sempre ser competente não comprometendo o resultado final dos projetos que realizava, confesso ter-me disponibilizado para a redescoberta deste filme, que já não via há uns bons cinquenta anos, por causa das canções e da música de Cole Porter.

Afinal os olhos focaram-se-me em Eleanor Powell e para todos os atléticos números em que volteia com Astaire, compreendendo-se a apreensão deste quando, saindo da RKO para entrar diretamente neste seu primeiro título na MGM, sabia ser ela uma parceira tão ou ainda mais engenhosa que ele.

A história em si é a do costume: atores sem sucesso, que penam em aceder aos palcos principais das salas de Times Square e, ademais, envolvidos em equívocos, que misturam os sapateados dos pés com o bater dos corações. Os gags são divertidos, embora mais do que previsíveis, e segue-se a regra de o argumento ser levado a uma leitura extremada em que dois amigos parecem definitivamente irreconciliáveis. Tudo acaba por concertar-se e volta à empatia inicial ademais com um número de consagração em palco.

Podemos admirar a desenvoltura de Ginger Rogers, a sensualidade de Cyd Charisse ou a polivalência de Rosalind Rissell, mas olhando para este, que foi o derradeiro grande sucesso de Eleanor Powell como figura primeira do cartaz, só se pode lamentar que, primeiro uma operação à vesícula, depois a religião e enfim o casamento com Glenn Ford, a tenham empurrado para a penumbra dos holofotes, quando por aqui se vê quanto poderia ter-se mantido por eles focada na década de 40 tão auspiciosamente aqui começada ... e praticamente aqui concluída.

Que incrível desperdício!

Colateralmente nunca deixo de anotar na singularidade de tanta alegria aparente coincidir com as sucessivas vitórias nazis na Europa. E quase parecer que dois mundos tão diferentes coexistiam! 

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