sexta-feira, janeiro 14, 2022

Síndrome de Estocolmo

 


Confesso admirador de Olaf Palme, cujo assassinato foi episódio tenebroso, que marcou uma época de viragem para pior nos rumos políticos ocidentais, é a pífia imagem dele dada por este filme de Robert Budreau, que menos me agradou. Porque, na realidade, e enquanto mero entretenimento sem grandes ambições, até preencheu o propósito com que nos predispusemos a vê-lo. Acrescentando-se o facto de contar com dois atores - Ethan Hawke e Noomi Rapace - que raramente desiludem por caucionarem filmes que valem a pena ser conhecidos.

Há depois a abordagem da questão da empatia: o que nos leva a simpatizar ou antipatizar com os personagens oferecidos na tela? Como nos deixamos conduzir para uma perspetiva maniqueísta das histórias se elas podem ter complexidades, que superam as primeiras aparências? Eis um tipo de debate, que Stockholm (2018) pode propiciar.

Baseado num artigo publicado na revista New Yorker foca-se no assalto a um importante banco de Estocolmo em 1973 quando os assaltantes, ou pelo menos um deles, conseguiu a solidária compreensão de duas das reféns. E assim ficaria encontrada uma fórmula canónica para colar a situações desse tipo, quando quem pode estar em risco de vida, opta por adotar o ponto de vista de quem assim o coloca. Por instinto de sobrevivência? Por ver-se convidado a olhar para a realidade com outros filtros, que não os do costume? Pela adrenalina suscitada por uma situação, que rompe com o tédio de que se poderia ter fartado?

A ambição desta produção não equivale à do seu protagonista que recorre a ousado voluntarismo para compensar o manifesto amadorismo. Pelo contrário Budreau manifesta profissionalismo sem querer ir muito além, por exemplo sugerindo, sem depois desenvolver, algumas ambivalências, que semeia aqui e ali: que tipo de relação existia entre Lars e Gunnar ou entre Bianca e o marido?

No fundo nada de muito diferente do que faria qualquer competente tarimbeiro, anos a fio capaz de construir obras interessantes em Hollywood, sem alcançar dimensões, que os próprios estúdios descartavam. 


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