sexta-feira, outubro 01, 2021

Algumas leituras do mês que findou

 

1. Boa parte das crónicas inseridas na «Autobiografia Não Autorizada» de Dulce Maria Cardoso já as lera na «Visão», mas a redescoberta numa sequência, que permite interliga-las, sem o espaçamento das semanas intermediadas entre a publicação de cada uma delas, permite uma apreciação mais consistente dessas recordações dos tempos da infância em Luanda e em Trás-os-Montes, as vicissitudes da estadia em pensões baratas por conta do IARN no pós-PREC, a sua construção como escritora (mesmo passando pelo curso de datilografia, que julgava imprescindível para o efeito!), até culminar nos amores e desamores e nas residências artísticas em sítios de muito frio, quando a vocação já se concretizara.

É sempre um prazer descobrir a escrita de uma autora, que recorre à sua própria biografia para dela fazer matéria literária. Mesmo que condicionada pelo espaço contratado com a publicação para que esses textos começaram a ser pensados, e daí esticados ou apertados relativamente ao potencial de que poderiam estar imbuídos.

2. Na descoberta da escrita de Marie Hélène Lafon havia o interesse de conhecer quem chegara tarde a esse labor mas, desde então, tem sido muitas vezes premiada, mormente com os prestigiados prémios Goncourt e Renaudot.

Não terá sido o caso deste «Joseph» de 2014, que retrata a biografia de um operário agrícola, sempre apostado em vender-se enquanto mão-de-obra do que em estabelecer-se por conta própria numa propriedade arrendada ou mesmo sua. Talvez por ter falhado rotundamente na única relação amorosa, que vivera e aquela hipótese fosse demasiado ambiciosa para um homem só. Não se estranha que o alcoolismo acabasse por servir-lhe de escape para as frustrações, entre as quais se incluiram, igualmente, as de ser patinho feio numa fratria, que faz do irmão gémeo o preferido dos pais.

O estilo da autora é o de dividir a narrativa em capítulos de uma dúzia de páginas, mas todos eles com um único parágrafo de principio ao fim. Excluindo assim qualquer recurso a diálogos entre os personagens que rodeiam o protagonista.

Servindo de testemunho sobre o que era ser camponês na França das décadas mais recentes, o romance não me entusiasmou, mesmo procurando nele os paralelos com tios e avós, que, igualmente, fizeram da vida no campo a sua forma de sustento no século transato. 

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