Goethe dizia que fora em Roma, que se encontrara pela primeira vez consigo próprio. Chegara ali numa noite de outubro de 1786 depois de ter saído secretamente da sua Frankfurt natal e atravessado os Alpes para satisfazer a ambição de ver a Cidade Eterna. Já andava nos 37 anos, sempre tivera confortável existência burguesa e era conhecido como um dos mais talentosos autores do pujante Romantismo.
Fascinado pela atmosfera mediterrânica e pelos edifícios que descreveria abundantemente no seu «Viagem a Itália», viu-se como que reformatado espiritualmente pelo ambiente renascentista. A sul da cidade percorreu a Via Ápia para aliar a contemplação do Belo à perceção de a História ter por ali passado durante muitos séculos. Monumentos, aquedutos, sepulturas e outras ruínas entusiasmaram-no ao ponto de abordá-los profusamente nas cartas para a sua amiga Charlotte von Stein.
Fazendo jus aos conhecimentos como geólogo colecionou pedras comportando-se diferentemente dos que, até então, também faziam a mesma viagem com fins educativos.
O Coliseu encantou-o pela sua grandeza, tal qual sucedeu com o Palácio Farnese, cuja construção remontava ao glorioso século XVI e onde descobriu uma segunda Capela Sistina numa abóboda coberta de frescos magnificentes.
M as não foram só os argumentos arquitetónicos a inebriarem-no: todas as tardes percorria as movimentadas ruas da cidade para contactar com as multidões, que haviam-no de surpreender quanto aos seus excessos durante as comemorações carnavalescas. No fundo elas demonstravam-lhe os contrastes entre a tranquilidade e a mais caótica das confusões. Procurando aquela sensação mais plácida refugiava-se nos jardins da Villa Borghese donde apreciava os matizes dos crepúsculos. Às vezes era ali que passava dias inteiros para trabalhar em poemas, peças de teatro e até na pintura de aguarelas.
Roma estimulou em Goethe a descoberta do Belo e o tumulto dos sentimentos ...
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