sexta-feira, outubro 22, 2021

Violências sociais e identitárias

 

1. Em «O Avesso da Pele» Jefferson Tenório dá conta do racismo estrutural, que grassa na sociedade brasileira traduzido, por exemplo, na possibilidade de um negro continuar a ser assediado por policias, que o forçam a identificar-se, mesmo quando já tem idade para ser pai de muitos dos que o instam a tal e é professor numa escola pública. Assim como não estranha que eles possam incluir quem tem, igualmente, a tez negra porque, vestida a farda, assim se porta o respetivo «monge». Daí que considere a eleição de Bolsonaro dentro dessa lógica: se não fosse ele seria um qualquer outro que viesse dar expressão a esse lado mais sombrio de uma nação onde as desigualdades mediante a cor da pele continuam a ser um dos seus principais problemas, ainda por resolver.

2. Diogo Noivo escreveu um ensaio sobre a história da ETA e confesso-me pouco curioso sobre o resultado dessa investigação. O movimento independentista basco fracassou no intento devido à violência descontrolada de muitos dos seus membros, que não souberam consciencializar quanto ela poderia servir ou não a sua causa. Mas a diabolização dessa organização serve sempre de capa à desculpabilização de um Estado castelhano que, desde o franquismo, sempre usou de ignóbil bestialidade, quando se tratou de manter unida uma soma de nacionalidades desejosas de se centrifugarem para a afirmação das suas distintas identidades.

Não esteve Felipe Gonzalez e a cúpula do PSOE ligada à organização clandestina de um terrorismo estatal personificado nos GAL e cuja guerra suja foi também assinalada por várias mortes? E não desrespeitou Aznar qualquer possibilidade de diálogo com a ETA, porque pressentiu o quanto poderia ganhar politicamente com uma dureza contrabalançada pelo total abandono dos reféns?

Na guerra entre a ETA e o estado castelhano não há espaço para maniqueísmos, porque as zonas cinzentas intercalam-se entre os seus extremos. 

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