domingo, outubro 03, 2021

The Amusement Park, George Romero (1973)

 

Um dos maiores acontecimentos cinematográficos do mês passado foi a apresentação deste filme de George Romero no Festival Motel X.  Apenas conhecida a sua incerta existência pelos entusiastas da filmografia do realizador de “A Noite dos Mortos Vivos”  (1968), julgava-se que estivesse irremediavelmente perdido até surgir esta cópia restaurada digitalmente. Que confirma a vocação irreverente de um crítico da sociedade capitalista, que fez dos filmes de terror o pretexto para oportunas metáforas sobre o alienante consumismo e as suas contraditórias lutas de classes.

Rodado com pouco dinheiro, porque os grandes estúdios sempre trataram Romero como um pária, “The Amusement Park” usa os ingredientes do género para mostrar quão indesejados são os velhos numa sociedade onde, a sua condição improdutiva, torna-os vilões indesejáveis para as pessoas «normais». Na distopia romeriana a existência de cada um de nós só fará sentido se vendermos a nossa força de trabalho a outrem ou assumirmos a função de a explorarmos. Em menos de uma hora vemos um velho deambular por um parque de diversões  sendo empurrado, até mesmo agredido pela multidão incomodada com os seus passos inseguros. Há uma mulher, que não consegue um médico para acudir ao marido acamado. Ou um proprietário, que se queixa dos inquilinos idosos de quem gostaria libertar-se.

No fundo bem mais do que uma curiosidade, porque coerente com o que de Romero sempre conhecemos.

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