domingo, outubro 24, 2021

Paul Auster e a biografia de um homem em chamas

 

Paul Auster foi um fenómeno literário durante muito tempo e confesso-me seu assíduo leitor desde que lhe descobri a  Trilogia de Nova Iorque. Mesmo o seu volumoso calhamaço de há quatro anos atrás - 4321 -  foi devorado num breve fim-de-semana embora me tenha interessado mais pelo conceito do que pela efetiva empatia pela narrativa em si. Esforço que tenho dúvidas de repetir com Um Homem em Chamas, 800 páginas dedicadas a Stephen Crane, um escritor do final do século XIX  morto de tuberculose aos 29 anos, que lhe serve de tema para uma biografia mesclada de reflexão sobre o ato de escrever.

Não é que o biografado desmereça atenção: além de se tratar de um autor particularmente sensível aos problemas dos mais desfavorecidos do seu tempo merecera de Jack London uma assumida admiração. O que vale para mim como autêntica carta de recomendação. Mas daí a investir mais de vinte horas na leitura de um livro planeado para ter a dimensão de uma novela, e afinal transformado numa tão volumosa obra, é decisão que, embora ainda não fechada em si, também está longe de pertinência favorável.

Na entrevista, que a Visão lhe faz na mais recente edição, Auster diz-se jovem apesar dos 75 anos de idade, mas consciencializa o quanto se está a secundarizar numa realidade literária em perda de fulgor perante tantos estímulos capazes de tornarem pouco atrativos os hábitos de leitura. Há a descrença perante uma dinâmica, que vai sobrevalorizando a imagem em detrimento da palavra. 

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